quinta-feira, 14 de agosto de 2014

A POSSE




Este é meu filho!
Esta é a minha casa!
Esta é a minha mulher!
Este é o meu carro!


Estas são algumas identificações, que comumente podemos mencionar em nossa vida como expressão daquilo que em nosso entendimento, foi conquistado e que consequentemente se encontra sob o nosso domínio e posse.
Ao nascermos, colocamo-nos diante de uma cultura do “isto é meu”, e seguimos nossa vida justificando ano após ano esta cultura. Não medimos esforços para que ao longo de nossos dias, acumulemos posse sobre as mais variadas formas de bens afetivos, materiais ou conceitos que desenvolvamos em razão de nossa manifestação no meio individual e no meio social.
Somos por natureza seres que habitam as mais diversas vertentes de conceitos sobre si, oscilamos em todas as direções e viajamos pelos diversos níveis de prazer ou dor, que experimentamos como forma de desenvolver esta experiência terrena.
O bebe ao nascer rapidamente cria uma identificação com os seus pais, e nesta identificação ele constrói uma relação de posse sobre estes, e de uma maneira obviamente não madura devido ao seu incipiente aparelho racional em formação, alcança uma forma própria de desenvolver esta posse.


Na medida em que o tempo passa, este bebe vai experimentando o contato com o restante de sua família, o que lhe oferece novas oportunidades de exercitar e desenvolver o sentimento da posse.
O desejo de manter os pais com a atenção voltada apenas para ele o capacita, a desenvolver o egoísmo, sim o egoísmo, ele entra em conflito com os irmãos na busca de receber a maior atenção de seus pais.
Evidentemente que este processo se desenrola de maneira inconsciente para o bebe. Na continuidade de seu crescimento, ele experimenta uma nova forma de posse, que é aquela em que ele entende que todo o brinquedo é seu, e ao gerar este  entendimento começam os primeiros conflitos interpessoais de sua vida, em decorrência deste sentimento de posse ganhar força dentro dele.
O tempo passa e as oportunidades da vida vão oferecendo a este bebe que cresce, uma nova maneira de perceber o mundo. Ele passa pela infância, adolescência e chega a juventude tendo ao longo deste percurso, ratificado e potencializado em sua personalidade esta veia de contato e de compreensão diante daquilo, que para ele, torna-se uma veia comum de manifestação e de necessidade para a sua sobrevivência emocional, possuir.


Mas o que torna o homem tão influenciado na busca de obter posse sobre aquilo com o qual ele entra em contato, ou sobre aquilo que seja razão de seus desejos?
A história humana denúncia eventos onde a força e a crueldade, foram uma constância no registro dos fatos que nos trouxeram até aqui. Estes eventos sempre causaram a dor, o sofrimento e a desigualdade em nossa civilização. O homem em diferentes fases da civilização humana, sempre gerou tendências e comportamentos autoritários e dominadores, na disfarçada busca do controle sobre o outro, tendo claras intenções de exercer a posse sobre.
A mente limitada em sua capacidade de gerar discernimento, juntamente com  os traumas absorvidos pela experiência da personalidade, reforçam um sentimento que provém de registros cármicos oriundos de outras passagens da personalidade sobre o planeta, e  que resultaram em padrões energéticos vinculados a necessidade da conquista, do domínio e da posse. Estes registros se tornam parte em nós e nos absorvem de tal maneira, que qualquer pessoa se refere a algum objeto pessoal como sendo meu. Dificilmente vemos pessoas pronunciar é nosso, mesmo quando o objeto em questão é de domínio comum e não individual tão somente.


Temos que estar cientes de que não somos apenas o resultado do agora, esta é uma ilusão na qual, muitos se perdem. Somos um resultado de um todo, as ações do passado e as ações do presente influenciam sempre o momento seguinte.
Porém, não acreditar que a vida é uma sucessão de eventos, que geram repercussão, é extremamente sedutor.  
Este pensamento oferece-nos uma forma de isenção de nossa responsabilidade pelos fatos gerados a partir de nossas intenções e ações. Quando ausentes desta compreensão ou aceitação, agimos sem questionar as consequências de nossos atos, verbalizamos intenções sem valorizar a contundência de nossas palavras, e isto infalivelmente nos aprisiona a tudo aquilo com o qual tenhamos dirigido a nossa atenção, seja pela  posse materializada ou pela volúpia de nossas intenções possessivas.


A sociedade moderna nos coloca diante de expectativas que exigem cada vez mais um posicionamento insano de parte da personalidade, pois, esta se vê ávida em usufruir dos serviços e produtos disponíveis pela indústria de consumo.
A necessidade consciente, não é suficiente para conceder ao individuo, discernimento para que ele possa buscar os meios para supri-la na medida, quantidade e qualidade daquilo que anseia possuir.


A posse torna-se um instinto, tão voraz e capaz de criar uma dependência tão severa no individuo, que ele perde a noção dos conceitos morais e éticos, para alcançar seus propósitos na satisfação deste instinto.
Desta forma, me permito qualificar a necessidade da posse, estar integralmente conectada com os instintos humanos vinculados a demência, que envolve a criatura humana em suas manifestações individuais e coletivas.
Um elemento que passa despercebido pelas pessoas que são movidas por este instinto refere-se ao fato de que a razão da posse estabelece, uma relação de propriedade com o individuo, não exatamente na concepção percebida pelo individuo. O processo natural observado pelo indivíduo o coloca na posição do agente que move e domina a relação, no entanto, a relação concreta é inversa àquela observada pelo individuo. Na medida em que ele permite se envolver de maneira tão identificada com o objeto da posse, que ele passa a ocupar uma relação de dependência para com o objeto.


 E sem perceber esta relação de dependência, ela é condensada em sua mente tornando-o conectado energeticamente com todos os seus objetos com os quais, ele imagina-se ser o possuidor, ele apercebe-se como o senhor da propriedade, do relacionamento, do projeto, de tudo aquilo que para ele é motivo de sentir-se possuidor, proprietário ou dono.
Esta realidade acaba gerando uma malha energética que estabelece entre todos os elementos deste processo, uma relação de dar e receber. Mas, deve ser ressaltado neste instante, que há um total prejuízo instalado e direcionado ao individuo que se toma  como o detentor da posse. Ele vai ser o núcleo (catalizador) de onde a energia parte e para onde ela retorna o que representa, uma fantástica perda de energia vital em seus corpos, fragilizando-o substancialmente e o expondo ao ataque de seres vampirizadores, que se servem de maneira similar da mesma energia que inconscientemente o toma como padrão vibratório.


O que é necessário ser compreendido pelo indivíduo é a sua transitoriedade nesta existência física, e nada do que aqui esta é realmente seu. É um grande e miserável engano, pois, a compreensão do possuir somente o aprisiona nesta realidade impedindo a sua evolução e o desprendimento, de sua natureza física de elementos que se aderem  em razão de seus instintos e desejos possessivos.



O sentimento a ser nutrido e incorporado tem que necessariamente estar vinculado a ideia de que as pessoas, os relacionamentos, os objetos e as circunstâncias que o indivíduo interage nada mais são do que ferramentas no exercício de si mesmo.
Não somos possuidores de nada, o que pensamos ter como propriedade é uma grande ilusão, uma utopia que sera desvendada e colocada a nú, na morte daquele que se entende o possuidor e o proprietário.
Este momento e extremamente triste e opressor ao espírito, que se deixou envolver pelas malhas da possessividade, enquanto transita na vida material como uma personalidade humana.
Sequer o nosso corpo é nosso, ao morrer ele não nos acompanha, ele é incorporado novamente pela terra.
Temos que ter em relação aos objetos, as circunstâncias, a profissão e aos nossos projetos uma relação de independência. Eles estão sendo úteis a nós e nada mais do que isto. Em um dado momento esta relação vai se desfazer, e devemos permitir que assim o seja, para que possamos experimentar uma nova realidade.


Com relação as pessoas e aos relacionamentos, o entendimento não difere em muito daquele primeiro, porém, como estamos interagindo com seres como nós, e que merecem o nosso respeito, assim como nós merecemos nos respeitar, fica clara a necessidade de cooperação, de interação e gratidão a ser desenvolvida no rompimento de uma relação, no afastamento de uma pessoa de nossa vida. Sempre devemos permitir que as pessoas possam partir de nossas vidas.
Ao agirmos deste modo estamos permitindo ser livres e concedendo liberdade ao outro, o que evidentemente não acontece por parte daquele que usa dos instrumentos da possessividade para se movimentar em sua vida.
A posse é uma prisão a quem é a razão da posse, mas, igualmente o é, a aquele que se entende ser o possuidor.
Contudo, a este último, ela se revela mais profunda e determinadora de um processo de revolta na perda de seu objeto de domínio.
Quem ganha com esta relação?


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